LENGALENGA DA COMPRA E VENDA
Há que vender e comprar
para poder lucrar
Há quem costume dar
não vá vir a precisar
Há o dar pelo gesto de dar
e o dar para vir reclamar
Há o dar interesseiro
e o dar desinteressado
Há quem compre ou venda alguém,
sem contrato previamente assinado
por aquele que nem sequer soube
que acabou de ser comprado.
Será o amor pelo outro
um mero supermercado?
Vitor Carvalhais—Porto
(via SMS)
PUBLICIDADE DE MIM
Faço publicidade de mim
Para saberem que existo
Ficam a saber que sou assim
Como humano foi Cristo
Eu na vida ando de rastos
Com a cruz dos meus versos
Que os arrasto nos meus passos
Para os sítios mais diversos
Dos meus versos faço publicidade
Para que alguém os vá declamando
Por qualquer aldeia vila ou cidade
Dizendo a minha verdade
Todos eles vão anunciando:
Se Cristo foi crucificado numa tarde
Eu na vida me vou crucificando
Nos versos que vou arrastando.
Silvino Figueiredo—S. Pedro da Cova
GENOMA
Metade dum homem
dá mosca
duas moscas
eis o homem
Tudo o mais é falta de asa.
Abdul Cadre—Torres Novas
NÃO ME CALARÃO
Quiseram humanos que não eram Homens,
Calar o grito de outros irmãos,
Selar-lhes a boca e atar suas mãos,
Devassar sua mente, travar seus passos…
Era a ditadura!
Vieram humanos que se diziam Homens
E soltaram o grito da Liberdade,
Pregaram a Justiça e a Igualdade
Acabando, então, erros crassos…
Chegara a Democracia!
Rolaram os anos, os sonhos mudam
E aqueles que a trouxeram, na liderança
Sedentos do poder, mataram a Esperança
Voltando a violência, a perseguição!...
Porque do meu lado a razão,
jamais me calarão!...
Manoel do Marco—Porto
ALTO LÁ
Alto lá,
sem parar o baile!
A verdade
é que isto não será,
Jamais e tão-somente,
felicidade.
Não é surrealismo
no conto da fada
neo-realista.
E digo-o porque sei,
pois que sou,
professamente,
artesão de afectos.
Vá lá, tomem nota:
A paleta dos sentidos
só se expurga
com um mínimo de decência
na alvorada perene
da ternura universal.
Se assim não fosse,
e isto à laia de
prova dos nove,
o amor deambularia á toa,
os sentimentos
seriam brisas
nos equinócios do deserto
e eu? Ai de mim!
...Noves fora nada!
Confere, pois então!
e não tem nada que saber!
Luís Melo—Viseu