EXORTAÇÃO À VIDA
Libertem-se os sentidos
Em girândolas de cor
Enfeitem-se os dias
Como jardins em flor
Perfumem-se as noites
Com salpicos de desejo
Cubram-se os corpos
Com mantos cor de luar
Experimentem-se novos passos
Na dança louca dos ventos
Aperte-se o mundo nos braços
Rasque-se o passar dos tempos
Acendam-se mil estrelas
Acordem-se fantasias
Alcancem-se todos os zénites
Entre sonhos e alquimias
Escutem-se rumores secretos
Em secreto murmurar
Com eles invente-se a vida
E os tempos por chegar.
Vanda Sôlho—Setúbal
In: “Poemas para ti”,
Chiado Editora, 2011
Acontece sempre que te lembro
o ar acordar
para a primavera e os pássaros;
a música subir
pelas hastes da alegria
e a poesia ficar
de mãos dadas com a luz.
Fátima Pitta Dionísio—Funchal
MAR
Mar!
Como é bom em ti navegar
embalada num barco
a acariciar
as belezas que tens para mostrar.
Mar!
De ti se pesca o peixe
e se apanha o sargaço
tens pérolas maravilhosas
e conchas graciosas.
Mar!
Enquanto bates na areia
no fundo de ti
canta uma sereia.
Mar!
Em ti os olhos se perdem
as horas passam e passam…
e não se encontra o Infinito.
Lúcia de Jesus Barros Andrade—Funchal
RIO LIS
Sob os festões em arco a tremular
o Lis adormeceu É meio-dia
Ganhou traço viril a renda esguia
que lhe contorna o corpo verde-mar
Suspiram ninhos pela ramaria
com romances lá dentro a baloiçar
Rodrigues Lobo vem-me recitar
Seus versos de oiro-arcaico e de magia
Rio de ninfas rio de poetas
Quando te afago com as mão inquietas
Sonho que o sonho não é termo à parte
Tudo me fala de alma aberta ao fundo
O Lis é um poema de além-mundo
que Deus criou nas suas horas de arte
Maria Natália Miranda—Lisboa
In: “Batel de espuma” - 1.º prémio
em soneto no Jogos Florais da
«Escola Remoçada», Braga, 1966